Novos Artistas EDP

 

O conjunto de imagens com que Bruno Santos contribui para o livro dos Novos Artistas EDP tem uma natureza dupla: por um lado trata-se da resposta a uma encomenda (foi pedido ao fotografo que registasse as diferentes fases de montagem da exposição) e, por outro, trata-se de, num universo circunscrito, apresentar um conjunto de imagens com autonomia e identidade artística e criativa. Portanto, estas fotografias não só documentam, como expressam uma posição e uma compreensão particular da fotografia e da sua relação com os objectos e com o espaço (relações estas importante no conjunto do trabalho deste artista).

 

O equilíbrio entre responder ao quesito de uma encomenda e não perder a sua voz é a trama que permitiu ao artista construir a visualidade do processo de construção de uma exposição. O qual surge como processo especial de adequação, exploração e montagem. Características estas que podem ser usadas para descrever o processo fotográfico, ou seja, a metodologia usada na captação das imagens é a mesma usada pelos artistas na montagem das suas obras. Situação esta particularmente intensa quando o espaço, como o do Museu EDP, tem características tão fortes que parece estar sempre a falar mais alto e ser mais forte que os trabalhos dos artistas. A resposta visual de Bruno Santos a esta procura de equilíbrio não se traduz numa leitura linear, sequência ou narrativa, mas na criação de sentidos visuais a partir dos fragmentos das relações entre o espaço e os objectos anónimos que nele existem. Presenças estas que se insinuam como uma espécie de esculturas inesperadas e anónimas que dotam o espaço expositivo de diferentes profundidades, texturas e temperaturas.

 

Sublinhe-se tratar-se de um olhar dirigido não só para as coisas da arte, mas para o fotógrafo todas as existências são equivalente, possuem o mesmo valor e tudo é, potencialmente, significativo. Esta inexistência de hierarquias visuais não é sinónimo de indiferença ao mundo, mas expressa que o elemento decisivo está em procurar o modo como no interior do processo artístico (do qual a montagem é um momento fundamental) a “adequação” ao espaço é vital: por isso estas imagens exploram as subtis ligações e conexões entre as estruturas, as ferramentas de construção e as obras de arte. Sendo que o olhar principal que estas imagens constituem reside no modo como conseguem mostrar uma obra de arte antes de ser arte, no momento que precede a sua metamorfose de simples objecto do mundo no objecto de conhecimento a que chamamos obra de arte: por isso nestas fotografias não há objectos sublimes, importantes ou belos, tudo são simples fragmentos. E as imagens passam a ser minuciosas anotações do momento preciso em que ainda não há arte, mas só coisas deixadas no chão ou encostadas a um canto.

 

Neste sentido, pode assumir-se que os detalhes e pormenores apresentados não constituem uma forma de mimetizar o real, mas são tentativas de aumentar o espectro das possibilidades das experiências visuais. Por isso, o fotografo é tão meticuloso na escolha e na ordenação das imagens. E o seu conjunto sugere um movimento de expansão temporal, através do isolamento dos momentos que precedem o nascimento das obras de arte, e de expansão espacial ao conseguir construir um espaço que está entre o espaço vazio, desocupado, liberto de qualquer intensidade artística, e o espaço final, narrativo, intencional da exposição.

 

Nuno Crespo